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Malagueira neighborhood

March 18, 1977, 09:00 in the morning. A car waits at Praça do Sertório, in Évora, for Álvaro Siza Vieira who arrives in the city to see the place where a project commissioned by the City Council will be implemented. However, the trajectory that the architect had in mind already denounced the singularity that would come to define the process and the project itself: as João Santos recounts in his master's thesis, Siza Vieira refused the car, preferring to do it, first, on foot and, then, by plane, the route between the historic center and the more peripheral intervention area, recording in verses and drawings what he saw.

This proposal, despite not being included in the Social Ambulatory Support Service (SAAL), appears in its wake even though, according to some authors, it has largely surpassed it. The area, illegally and precariously inhabited by a very heterogeneous group, mirrored, at the time, according to researcher Ana Rodrigues, “Portuguese society”: people of “gypsy ethnicity”, “returned from former colonies” and young people as a result of the “rural exodus”. The project to be built would respond to two objectives simultaneously. On the one hand, it allowed the “resolution of problems arising from the lack of quality housing at affordable prices”. On the other hand, urbanization planning prevented “clandestine subdivisions”.

 

 

 

 

 

 

 

 

The space corresponded to 27 hectares, one third of which was made up of green spaces, in which 1,200 homes would be built - divided between housing cooperatives, residents' associations, the Housing Development Fund, development contracts and the private sector - foreseeing if there were more than 4,000 people residing there. Based on a “participatory and experimental architecture”, the architect favored negotiation with the population. Prioritized, as the same author describes, “a close dialogue and the active participation of the recipients, listening to them and trying to satisfy their desires”.

In a general view, the houses can be seen “back to back”, connected by an aqueduct made of cement blocks, considered “a gesture of identity and guarantee of unity”. This system, popularly referred to as “conduits”, has established itself as the “conductor thread of the housing complex” since “vital infrastructure” is concentrated in it. We refer, therefore, to the “distribution of water, electricity, telephone and television”.

With regard to the organization of the houses on a more particular level, these are of a unique typology, consisting of two floors that divide the “functional organization” of the dwellings. This decision, says the architect himself in a book published in 2000, was much discussed for fear of monotony, since it was considered that “just building patio houses in a sector of the city was inhuman and unacceptable”. However, and after the publication of the book, some twenty years since the start of the project, Álvaro Siza Vieira wrote: “I continue to have the support of the population and cooperatives”.

 

 

The access floor, which has a direct connection to the street, is made up of the “service and living” areas, that is to say, “the kitchen, the storage room, the living room, a toilet and a bedroom that can assume different appropriations” . By day, the use of the ground floor is privileged, by night the upper floor.

It is on the upper floor that the houses can differentiate themselves. Depending on the needs of the families, “the typologies can vary between T2 and T5”, thus assuming the “evolutionary character” of the houses. Regarding this specificity, the researcher Mário Gomes assumes: “We do not even have information on the use of the evolutionary house, at any scale, in social housing in Portugal prior to the experience of Malagueira”.

The distribution of the exterior space, that is, the patio and the verandas, is closely related to the occupation of the built-up area inside. Based on the concept of a “house-patio”, which intended to “prevent the invasion of privacy” and “create a microclimate of transition between the climatic conditions outside and inside”, the dwellings stand out among those with a patio in front ( typology A) and those with a courtyard located at the back (typology B).

It is, however, a work considered “incomplete” since spaces that were previously foreseen in the initial project remained to be built. This is the case of the semi-dome, an aparthotel, a medical clinic and a tea house, for example.

Even so, this aspect does not invalidate the fact that specialists have come to consider the project “a case of methodological success”. In the architect's curriculum, "one of the largest projects and which occupied him the most time". For the population, “a participatory process”. Here is Bairro da Malagueira.

 

Sources: Gomes, M. (2017), “Bairro da Malagueira by Siza Vieira: Factors of identity appropriation around the house”, Kaleidoscope. Rodrigues, A. (2015), “The Experience of Quinta da Malagueira”, 'poster' presented at the 3rd International Housing Congress in the Lusophone Space; Santos, J. (2017). “Malagueira as it never was”, master’s thesis, University of Évora🇧🇷

COM A RIBEIRA DA TORREGELA

Ribeira Torregela

 

 

Estação 1 - Ribeira da Torregela

38.571973-7.929687

 

A Ribeira da Torregela, com nascente no Alto de S. Bento, é afluente do Rio Xarrama que por sua vez é o principal afluente do Rio Sado.

A sua rede hídrica e o percurso da água foram sendo alterados ao longo do tempo pelo desenvolvimento urbano de Évora.

Aqui, neste local, a ribeira aparece à superfície depois de fazer um percurso subterrâneo, canalizado sob os bairros a montante.

Ao longo do ano verificamos oscilações consideráveis no seu caudal, devido à sazonalidade do clima mediterrânico, sendo elevado na estação húmida e muito reduzido na estação seca. Classifica-se, por isso, como um curso de água de carácter intermitente.

Devido às atividades humanas, a quantidade e qualidade da água da ribeira têm sofrido alterações muito consideráveis nas últimas décadas.

Para a valorização deste ecossistema, estão em desenvolvimento vários projetos, como o projeto Ribeira da Torregela Viva e Vivida, onde todos temos um lugar, e o projeto Life Água de Prata.

DESAFIO:

Ao longo deste trilho desafiamos-vos a compreender e empatizar com esta ribeira.

Para isso Observe, Escute, Viva e Sinta de forma atenta e dedicada.

Descobrirá os seus segredos, as suas riquezas, mas também as suas fragilidades.

A CIÊNCIA CIDADÃ, dá-lhe uma oportunidade para contribuir para a Ciência.

Se é um explorador curioso está convidado a contribuir para o inventário das espécies da Estação da Biodiversidade "Biodiversity4all".

Que metodologia seguir?

- Registe as observações através de fotografia

- Identifique as espécies

- Partilhe a informação com a sociedade, através do website - www.biodiversity4all.org

Divirta-se a ser Naturalista!

Descargas e erosão

 

 

Estação 2 - Descarga de águas pluviais e erosão das margens

38.57097-7.928276

 

Ao longo do percurso podem observa-se pontos onde as águas pluviais vindas das ruas, quintais e pátios chegam à ribeira.

Já pensou que substâncias podem trazer para a ribeira e como elas podem afetar a qualidade da sua água?

Será que existem mais descargas como esta ao longo do seu percurso?

 

Quando a chuva é intensa e a água corre com força, pode haver erosão das margens e o solo envolvente pode ser arrastado para o leito da ribeira, enchendo-a de terra, pedras, blocos e até de resíduos urbanos. Isto acontece particularmente nos locais onde as margens estão desprotegidas.

Qual será a melhor forma de segurar as margens e evitar a erosão?

Será que as raízes das plantas podem ajudar?

E nós, humanos?

Esteja atento, a ribeira dar-lhe-á a resposta.

Siga para jusante acompanhando a vegetação ribeirinha pela margem direita da ribeira (no sentido da corrente). Ao atravessar a estrada, passe para a margem esquerda da ribeira.

Carvalhos na margem

 

 

Estação 3 – Carvalhal à beira da ribeira

38.570912-7.927329

 

Aqui começa um troço dominado pelas frondosas sombras do Carvalho-cerquinho (Quercus faginea).

Observe como variam as folhas de árvore para árvore.

Onde estão os seus frutos?

Não confunda bolotas com bugalhos.

A bolota é o fruto dos carvalhos e o bugalho é uma estrutura esférica que a árvore forma como resposta à picada de insetos, neste caso a Vespa-das-galhas (Cynips tozae). Esta utiliza-os para depositar os seus ovos em segurança e como fonte de alimento para completar o ciclo de vida até à fase adulta. Nesta altura, sairá do bugalho o que pode ser comprovado pelo orifício que deixa no mesmo.

Descubra ainda, no início deste troço, os arbustos que formam moitas: a Madressilva (Lonicera sp), a Romãzeira (Punica granatum), o Folhado (Viburnum tinus) e o Pilriteiro (Crataegus monogyna), entre outros.

Na primavera inspire e sinta os odores maravilhosos que exalam as plantas e esteja atento aos pequenos insetos polinizadores que visitam as suas flores, como por exemplo, o Abelhão (Bombus terrestris), pequenas abelhas silvestres, besouros e borboletas.

Um conjunto de equipamentos desportivos instalados neste espaço verde, convida à prática de atividade física e pode complementar a sua caminhada.

DESAFIO:

Sugerimos-lhe a aplicação PlantNet, para identificar algumas espécies de plantas com uma simples imagem fotográfica. É uma ferramenta grátis.

Biodiversidade

 

 

Estação 4 – Biodiversidade nas margens da ribeira

38.57-7.925014

 

A presença, no leito da ribeira, de plantas típicas dos prados alentejanos, como por exemplo os Catacuzes (Rumex crispus) e o Chupa-mel (Echium plantagineum), evidencia o seu assoreamento devido ao arraste de solo para o seu interior. Qual a principal razão para esta situação?

Já pensou na importância da galeria ripícola, árvores e arbustos característicos dos nossos sistemas ribeirinhos, para a consolidação das margens da ribeira? Já reparou como aqui se encontra pouco desenvolvida e fragmentada?

Plantas como a Tamargueira (Tamarix africana) e os choupos (Populus spp.), avistados ao longo da ribeira, são alguns dos arbustos e árvores geralmente presentes nestas galerias. No entanto, uma maior densidade e diversidade de espécies seria o ideal para a proteção da ribeira.

Observou uma pequena borboleta que voa de forma irrequieta, com asas de tons castanhos e alaranjados? É a Borboleta-malhadinha (Pararge aegeria), uma espécie muito territorial, que gosta de locais sombrios e húmidos, como a nossa ribeira.

E o que ouve? Distingue diferentes cantos?

As aves nem sempre são fáceis de observar, mas através dos seus sons poderá distingui-las e identificá-las.

DESAFIO:

Oiça os audios/vídeos correspondentes aos sons de 5 espécies de aves:

Melro (Turdus merula) https://www.youtube.com/watch?v=fP6qwPOPozw

Toutinegra-dos-valados (Curruca melanocephala) https://www.youtube.com/watch?v=FcRlz_W3Z4w

Carriça (Troglodytes troglodytes) https://www.youtube.com/watch?v=nQHLBzLzu98

Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) https://www.youtube.com/watch?v=QofPm4gK0i4

Rouxinol-comum (Luscinia megarrhynchos) https://www.youtube.com/watch?v=BnjAtIWvzDQ

Escute com atenção e descubra estas espécies.

Mantenha-se em escuta ao longo do percurso!

Vida num Silvado

 

 

Estação 5 - A vida num silvado ribeirinho

38.569972-7.924005

 

Conhece as silvas (Rubus sp.)?

Já deve ter provado os seus frutos, que as aves também apreciam, as amoras. Cuidado com os picos!

Estes silvados são importantes para a biodiversidade animal, quer como fonte de alimento, quer como local de abrigo e de nidificação.

A Toutinegra-dos-valados (Curruca melanocephala) é frequentadora assídua destes locais, assim como pequenos mamíferos e insetos.

Próximo, encontra alguma Tamargueira?

As suas folhas parecem escamas e, no início da primavera, podes observar as suas flores rosadas que formam cachos cilíndricos e atraem muitos insetos polinizadores.

E que bonitas são!

Continue caminho para jusante e atravesse a ribeira para a margem esquerda numa ponte de madeira sobre pedra.

Estamos agora numa zona mais declivosa da linha de água.

Observe o leito da ribeira.

Vê plantas todas inclinadas no mesmo sentido como se tivessem sido "penteadas"?

Porque se encontram assim?

Foram penteadas pelas enxurradas.

Mesmo nos meses mais secos, elas "dizem-nos" que na estação chuvosa a quantidade de água que escorre é considerável e com corrente forte.

 

Junto ao Freixo (Fraxinus angustifolia), árvore característica das zonas ribeirinhas, juntam-se duas linhas de água àquela que acompanhaste, aumentando o caudal da ribeira.

Influenciarão a qualidade da água de forma positiva ou negativa?

Para dar resposta a esta questão a ciência e a tecnologia podem ser nossos aliados.

Ao longo da ribeira são vários os pontos de recolha de amostras de água, devidamente sinalizados.A Agência Portuguesa de Ambiente e a Universidade de Évora, parceiras do Projeto Ribeira da Torregela Viva e Vivida, recolhem e analisam estas amostras em relação a vários parâmetros, para avaliar a qualidade da água da ribeira.

Com um pouco mais de atenção pode descobrir uma pequena nascente. Em tempos, quando o abastecimento público falhava, a população recorria a este ponto de água.

Vire à direita e siga pelo canal até ao lago. Este canal poderá não ser a parte mais encantadora desta ribeira. No entanto, pode esconder algumas boas surpresas, nomeadamente vestígios de atividade de animais residentes como dejetos de Lontra (Lutra lutra), que aqui se alimenta por exemplo de Lagostim-vermelho-do-Louisiana (Procambarus clarkii), uma espécie invasora em Portugal.

Se estiver muito atento pode observar bolhas de ar que emergem à superfície da água, libertadas pelo Cágado-mediterrânico (Mauremys leprosa).

Lago da Malagueira

 

 

Estação 6 - Lago da Malagueira

38.569333-7.923624

 

Aqui a ribeira dá lugar a um sistema lêntico, de águas paradas.

Observe a cor e a transparência da água.

Há alturas do ano em que a água se torna verde, devido, sobretudo, ao desenvolvimento de algas microscópicas. Estas microalgas são indicadoras da presença excessiva de nutrientes ricos em fósforo e azoto.

Qual será a sua origem?

A ribeira está sujeita a descargas de efluentes com elevada carga destes nutrientes que ficam retidos no lago e se vão acumulando nos sedimentos do mesmo.

Estas substâncias favorecem o desenvolvimento excessivo de microalgas e de plantas aquáticas que, pela sua atividade fotossintética e respiratória, provocam grandes variações na disponibilidade de oxigénio dissolvido na água. Este fenómeno designa-se de eutrofização e é persistente no lago da Malagueira. De que forma poderá influenciar a sobrevivência dos seres vivos deste lago?

A mortandade piscícola observada com frequência neste lago resulta exatamente deste cenário.

 

 

 

Desfrute a sombra dos freixos.

Observe as tabúas (Typha sp.) que crescem nas águas menos profundas do lago.

Sabendo que são utilizadas em estações de tratamento biológico de águas residuais, o que lhe parece da sua introdução neste local?

A sua ação depuradora, eficaz a reduzir a poluição da água, poderá ter sido um dos critérios para a sua seleção e implantação. Para além disso, são um habitat por excelência para aves aquáticas como a Galinha-de-água (Gallinula chloropus), que o utiliza como abrigo e local de nidificação. Esteja atento, é muito provável que a veja.

Ocasionalmente, ocorrem também aqui outras espécies, como a Garça-branca-pequena (Egretta garzetta), sinal de que há alimento para ela. No seu cardápio habitual incluem-se peixes, rãs, pequenos répteis e insetos aquáticos.

E a propósito de peixes, já viu algum neste lago? Presentemente há registo de 4 espécies, todas não-nativas da fauna portuguesa: a Carpa-comum (Cyprinus carpio), o Chanchito (Australoheros facetus), o Peixe-gato-negro (Ameiurus melas) e a Gambúsia (Gambusia holbrooki).

Sabia que a Gambúsia é uma espécie aquática invasora, que foi introduzida para combater a malária em Portugal e que por cá ficou?

Sabia que pelos seus hábitos alimentares também contribui para que o lago se torne verde?

SAIBA MAIS...

https://www.wilder.pt/historias/gambusia-este-peixe-invasor-veio-para-combater-a-malaria-e-ficou-em-portugal/

Siga pela margem direita do lago e atravesse o passeio do paredão.

Choupos a jusante

 

 

Estação 7 – Choupos a jusante

38.568732-7.923328

 

A montante o lago, a jusante os choupos.

No paredão deste lago artificial, pode desfrutar de uma visão conjunta do espelho de água e do casario.

Quando se projetou o Bairro da Malagueira, teve-se em conta a valorização da Ribeira da Torregela, que adquiriu uma importância singular para este bairro. Valorizou este território e permitiu à sua população o desenvolvimento de ligações com a natureza, não só no sentido de beneficiarem dos serviços prestados pelo ecossistema, como de poderem contribuir para a sua preservação e cuidado.

Dirija-se para jusante, no sentido da escorrência da água.

Sabe distinguir o Choupo-negro do Choupo-branco?

O Choupo-branco (Populus alba) apresenta folhas mais recortadas e com a sua página inferior aveludada e branca, enquanto que a folha do Choupo-negro (Populus nigra) tem a forma de coração e textura lisa, com cor verde em ambos os lados da folha.

Entretanto ouviu um som semelhante ao de martelar na madeira?

É possível que denuncie a presença de Pica-paus: Pica-pau-malhado (Dendrocopos major) ou Pica-pau-galego (Dryobates minor).

Estes alargam com o seu poderoso bico cavidades nos troncos das árvores, onde encontram um dos seus alimentos preferidos, as larvas de insetos.

Siga em direção ao próximo troço que se encontra entre os Bairros da Torregela e Vila Lusitano. A ribeira parece desaparecer, mas se estiver atento à vegetação ribeirinha poderá seguir-lhe o rasto. Atravesse a estrada perto do Chafariz das Bravas, com a retunda pela direita.   

Quando voltar a reencontrar a ribeira e a acompanhar ao longo do seu percurso, mantenha despertos todos os seus sentidos.

Vereda

 

 

Estação 8 – Vereda

38.566475-7.922284

 

Encontrou diferenças no caudal e na largura da mesma?

Reparou nos muros de pedra que sustentam as suas margens e nos blocos intrusos que se encontram no seu leito?

O som da água é uma constante no inverno e na primavera, no entanto também o cheiro, associado a descargas de águas pluviais, por vezes se torna desagradável.

Uma vez mais, essas águas transportam para a ribeira a sujidade vinda dos quintais e das ruas.

Também a presença de lixo é um problema, pela negligência de alguns que não dão valor a este lugar.

Neste troço a galeria ribeirinha é mais desenvolvida. No entanto, devido a falhas de gestão paisagística, é também um espaço propício à expansão de algumas plantas exóticas invasoras, por exemplo o Espanta-lobos (Ailanthus altissima).

Considera importante uma intervenção neste troço da ribeira e na sua envolvência para melhorar a sua qualidade ambiental?

O que fazer? Poderá enviar sugestões: https://malagueira.pt/bairro-ribeira (ver qual é o email mais indicado)

Ecossistema ribeirinho

 

 

Estação 9 - Ecossistema ribeirinho a acordar os sentidos

38.564778-7.922039

 

A água escorre aqui entre pedras e raízes.

Quando cai das pequenas cascatas incorpora ar e, assim, enriquece o ecossistema aquático em oxigénio (na forma dissolvido), um dos elementos essenciais à vida aquática.

Neste troço, entre os bairros Vila Lusitano e Torregela, o ecossistema ribeirinho esconde uma diversidade de seres vivos interdependentes e que nos pode passar despercebida.

Disponível para os conhecer?

Dentro de água, destacamos invertebrados como pequenos moluscos, lapas e búzios, e larvas de insetos que aqui se desenvolvem e que servem de alimento, por exemplo à Cobra-de-água (Natrix maura) e à Rã-verde (Pelophylax perezi).

Esta última também se alimenta de insetos na fase adulta, assim como todo um conjunto de aves insetívoras e a colónia de Morcego-pigmeu (Pipistrellus pygmaeus), instalada nas árvores deste troço. Poderá observá-los principalmente nos meses mais quentes, ao entardecer.

Na mesma altura do ano, e olhando um pouco mais alto para o céu, descobrem-se bandos de Andorinhão-preto (Apus apus) que se ouvem, com os seus ‘gritos’ estridentes, e que são parte das nossas paisagens sonoras urbanas.

Estas aves têm um modo de vida peculiar e surpreendente; fazem quase tudo a voar, incluindo dormir.

SAIBA MAIS...

https://gulbenkian.pt/jardim/visitar/um-naturalista-no-jardim-gulbenkian-como-e-porque/como-e-que-os-andorinhoes-conseguem-dormir-a-voar/

DESAFIO:

Explore, Observe, Escute e Sinta.

Aqui, se conseguir sente-se, feche os olhos e entrega-se ao tempo.

Há cores, brilhos e contrastes, texturas, sons, aromas, vento forte ou brisa... ? O que viu, escutou, sentiu?

 

Partilhas dos alunos do 8º ano da ESAG no seu primeiro encontro com a ribeira, março de 2022:

- "Esta ribeira é cativante pelo brilho da água."

- "Senti o cheiro de várias plantas."

- "O som é agradável, ouço as árvores como se estivessem a falar umas com as outras, ouço a água …"

- "Oiço os passarinhos, a água da ribeira a correr e o som das folhas com o vento."

- "Ouço passarinhos cheios de amor a comunicar uns com os outros."

- "Está cheio de vida, é muito tranquilo e calmo, escuto a natureza e relaxo."

- "Sinto felicidade vinda da natureza até mim."

- "Um sítio bom para relaxar, silencioso, calmo e confortante."

- "O som da natureza é como uma melodia para todos os nossos sentidos. Sente-se a paz."

- "Acho este sítio bastante importante para tirar a nossa dor, angústia e tudo de mal que possa estar dentro de nós."

- "Fiquei encantada por esta ribeira me trazer tanta vontade de aproveitar e de bem tratar a nossa maravilhosa natureza …"

E ainda houve quem conseguisse superar os aspetos negativos, sugerindo que utilizando a mente e a imaginação é possível ver apenas um lugar lindo e com ótimas energias.

Pare e observe

 

 

Estação 10 - Pare e observe um pouco mais

38.56359-7.921779

 

Utilize o olfato.

O aroma da ribeira é muitas vezes agradável, indício da presença de plantas aromáticas como o Hortelã-brava ou Mentastro (Mentha suaveolens). Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Por vezes ocorrem descargas indevidas que dão à ribeira um odor desagradável, e que nos leva a afastarmo-nos do seu curso. Como será possível melhorar esta situação?

A Borboleta-malhadinha (Pararge aegeria) mantem-se sempre presente.

Na ponte pode ainda encontrar a Lagatixa-verde (Podarcis virescens) a apanhar sol.

Entretanto, ouviu algum rouxinol? Na Primavera, podem-se ouvir pelo menos 2 espécies, o Rouxinol-comum (Luscinia megarrhynchos) e o Rouxinol-bravo (Cettia cetti).

SAIBA MAIS...

Os áudios/vídeos seguintes podem ajudar-te a identificá-los:

Rouxinol-comum - https://www.youtube.com/watch?v=BnjAtIWvzDQ

Rouxinol-bravo - https://www.youtube.com/watch?v=5Ux4uU5haFA

 

Nas zonas urbanas, os cursos de água encontram-se frequentemente degradados, com o seu percurso alterado e com a vegetação ribeirinha destruída.

Esta ribeira reflete uma realidade ambivalente, com aspetos negativos, mas também positivos.

Aqui, procura-se recriar o ecossistema característico deste ambiente através de um processo de renaturalização. Repare nas estruturas de madeira que se observam nas margens da ribeira. Estas, juntamente com a plantação das espécies ribeirinhas, promovem a contenção das margens para controlo da erosão e a recuperação da biodiversidade.

Já viu nalgum jardim a Erva-das-pampas (Cortaderia selloana)? É bonita na fotografia, com as suas vistosas plumas brancas.

Procure-a na ribeira.

Apesar de bonita, trata-se de uma planta não-nativa e invasora, que pela sua grande capacidade de reprodução constitui uma ameaça para as espécies nativas, com graves consequências no equilíbrio da biota e do ecossistema. Sabia que cada Erva-das-Pampas dispersa milhares de sementes?

Uma das principais formas de controlar o crescimento desta invasora passa pelo corte e eliminação adequados das plumas, no início do verão, antes das flores evoluírem para frutos, recomendam os especialistas.

Ao longo de todo estes troços observam-se grandes manchas de vegetação exótica invasora, mas na proximidade, encontram-se alguns sabugueiros. Também tem potencial ornamental, mas trata-se de uma planta nativa, não invasora, com muitos outros potenciais. O Sabugueiro (Sambucus nigra) é muito importante do ponto de vista ecológico. As suas flores são bastante atrativas para os insetos polinizadores. As suas bagas são uma importante fonte de alimento para as aves, em especial para melros e tordos, que também ajudam na dispersão das sementes. Mas atenção, esta dispersão não é perigosa. Sabia que o Sabugueiro tem sido usado tradicionalmente para diversos fins - medicina, culinária, cosmética, perfumaria e tinturaria, sendo muito popular desde os povos pré-históricos, gregos e romanos.

SAIBA MAIS...

https://www.wilder.pt/naturalistas/o-que-esta-a-acontecer-no-outono-cada-erva-das-pampas-dispersa-milhoes-de-sementes/

https://www.wilder.pt/naturalistas/o-que-procurar-na-primavera-o-sabugueiro/

Siga para jusante atravessando a estrada e acompanhe a ribeira ao longo da margem direita.

Colónia de gatos

 

 

Estação 11 - Colónia de gatos assilvestrados

38.560959-7.921212

 

Neste troço, junto à ribeira pode encontra-se uma cólonia de gatos assilvestrados.

Sabe o que são gatos "assilvestrados"?

São gatos que foram um dia domésticos, mas que se encontram agora na rua, por se terem perdido ou por terem sido abandonados, e acabaram por adotar comportamentos de gatos silvestres. Geralmente têm receio das pessoas.

Sabia que estes gatos se poderão tornar num problema para a biodiversidade e para a saúde pública, quando se reproduzem de forma descontrolada?

Então, o que fazer?

Programa CAPTURAR-ESTERILIZAR-DEVOLVER: em parceria com os municípios e os cuidadores de colónias de gatos assilvestrados, a Associação Animais de Rua implementou um programa de esterilização em massa de âmbito nacional. Em Évora, é assegurado pelo Serviço Veterinário Municipal. O processo consiste em capturar os animais, esterilizá-los, assinalá-los com um pequeno corte na orelha esquerda para fins de identificação, desparasitá-los e devolvê-los novamente ao local original da colónia, onde são alimentados por um cuidador. Neste local encontra um abrigo de uma dessas colónias.

SAIBA MAIS…

"Pegar e Largar" - Projeto Educativo Gatos Assilvestrados Recolocados

https://www.cm-evora.pt/wp-content/uploads/2021/02/folheto-pegar-e-largar.pdf

Arte e Biodiversidade

 

 

Estação 12 - Escultura ao serviço da Biodiversidade

38.559705-7.920297

 

Neste troço pode encontrar uma escultura em pedra com muitas formas geométricas.

Se chover, irá reter alguma água.

Esta escultura tem uma função utilitária já que segundo o seu autor, Rui Horta Pereira, foi desenhada para ser “um bebedor para pássaros, uma pista de aterragem para abelhas e vespas, um salvador de cães afogueados pelas coleiras!”

Como vê, a Arte também pode estar ao serviço da Biodiversidade!

Esta escultura pode constituir um bom local para se observarem alguns seres vivos.

Mas não se aproximes demasiado, para não os assustar!

Decerto conhece as canas.

Reconhece-as na ribeira?

A Cana (Arundo donax) é uma espécie invasora também. Reproduz-se unicamente por rizomas, que regeneram muito vigorosamente após corte. Para além disso, os fragmentos dos rizomas quando transportados nos cursos de água originam novos pontos de invasão a grandes distâncias, quando ficam retidos nas margens.

Nos cursos de água impedem o desenvolvimento da vegetação nativa e da fauna associada.

Para além disso, constituem um sério obstáculo ao escoamento da água, aumentando o risco de cheias e enxurradas.

São ainda muito inflamáveis, mesmo quando verdes, facilitando a ocorrência de incêndios.

No final deste troço poderá observar que uma outra linha de água se junta à ribeira, também ela invadida por esta planta.

DESAFIO:

Torne-se um Cidadão Cientista e contribua para o estudo e divulgação das plantas invasoras, ajudando-nos a mapear esta espécie, entre outras, na plataforma - https://invasoras.pt/pt/especies-invasoras-portugal

Atravesse a estrada e passe sobre a ribeira pela ponte do Bairro do Moinho para a margem esquerda.

Entre os Salgueiros

 

 

Estação 13 – Entre os Salgueiros

38.558776-7.919642

 

Neste troço da Ribeira da Torregela, na envolvente do Bairro do Moinho, seguindo por entre Oliveiras (Olea europaea) e Olaias (Cercis siliquastrum) encontramos as copas baixas do Salgueiro-chorão (Salix babylonica) que nos convidam a uma experiência sensual.

Infelizmente, também aqui as descargas pluviais das ruas, dos quintais e dos pátios continuam a ser um problema, pelo mau odor que provocam e por afetarem a qualidade da água da ribeira.

 

Repare nos loendros.

De folhas alongadas e vistosas flores brancas ou cor-de-rosa, o Loendro (Nerium oleander) é uma espécie nativa na região mediterrânica, muito associada a linhas de água temporárias, como a Ribeira da Torregela. É uma espécie pouco exigente em manutenção, muito adaptável e bastante resiliente. Garante uma maior sustentabilidade e diversidade ecológica dos habitats, sendo por isso uma ótima opção para colocar nos nossos jardins. No entanto, todas as partes desta planta são tóxicas. Por isso, devemos evitar que as crianças mexam nesta planta, mas caso o façam devem, posteriormente, lavar muito bem as mãos. Só temos que conhecê-las e saber como lidar com elas.

SAIBA MAIS…

"Seja Naturalista - O Loendro" - https://www.wilder.pt/diversoes/o-que-procurar-na-primavera-o-loendro/

A ribeira ruma ao Rio

 

 

Estação 14 - A ribeira segue o seu caminho rumo ao Rio Xarrama…

38.556385-7.920349

 

Chegamos ao fim deste percurso.

No entanto, o fim pode ser o início de uma nova aventura.

A ribeira continua e novas etapas se adivinham no futuro.

Até ao Rio Xarrama o percurso ao longo da ribeira conta com outros lugares e realidades, onde outros fenómenos e seres vivos ocorrem, com os quais nos podemos surpreender, encantar e ligar.

A Ribeira da Torregela é um “Lugar" e um "Ser”, para visitar e revisitar como um parente ou um amigo, é uma ribeira Viva e Vivida.

 

 

A elaboração deste trilho contou com o envolvimento de uma turma do 8º ano 2021/2022 e seus professores, da Escola Secundária André de Gouveia (Évora) e da comunidade local através do Projeto Ribeira da Torregela Viva e Vivida, promovido pela Associação de Moradores e Cidadãos - Malagueira Viva e Vivida e financiado pelo Programa dos Bairros Saudáveis, em colaboração com um  conjunto vasto de entidades parceiras locais: ecoVerney - Escola de Ciência e Tecnologia da Universidade de Évora, Agência Portuguesa do Ambiente, Associação de Moradores do Bairro da Torregela, Câmara Municipal de Évora, União das Freguesias de Malagueira e Horta das Figueiras e Centro Ciência Viva de Estremoz.

Um agradecimento especial aos especialistas convidados Amália Oliveira (insetos), Cassandra Querido (flora), Carlos Miguel Cruz (avifauna) e João Tiago Marques (mamíferos), que muito contribuíram para conhecermos melhor a biodiversidade da ribeira da Torregela.

 

A equipa do Eco-trilho

Cláudia Cruz, Idalécia Ferreira, Ana Teresa Veiga, Maria Ilhéu

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