História

Eco trilho

Ribeira da Torregela

A Ribeira da Torregela, com nascente no Alto de S. Bento, é afluente do Rio Xarrama. O seu percurso foi sendo alterado ao longo do tempo pela malha urbana de Évora. Aqui, a ribeira aparece à superfície depois do seu percurso subterrâneo, canalizado sob os bairros a montante. Ao longo do ano verificamos oscilações consideráveis do seu caudal, devido às atividades humanas e ao clima mediterrânico, sendo elevado na estação húmida e muito reduzido na estação seca. Classifica-se, por isso, como um curso de água de carácter intermitente. Para a valorização deste ecossistema, estão em desenvolvimento vários projetos, como o projeto Ribeira da Torregela Viva e Vivida, onde todos temos um lugar, e o projeto Life Água de Prata. DESAFIO: Ao longo deste trilho desafiamos-te a compreender esta ribeira. Para isso Explora, Observa, Escuta, Vive e Sente de forma atenta. Descobrirás os seus segredos, as suas riquezas mas também as suas fragilidades. CIÊNCIA CIDADÃ, dá-te uma oportunidade. Se és um explorador curioso estás convidado a contribuir para o inventário das espécies da Estação da Biodiversidade “Biodiversity4all”. Que metodologia seguir? – Regista as observações através de fotografia; – Identifica as espécies e – Partilha a informação com a sociedade, através do website www.biodiversity4all.org Diverte-te a ser Naturalista.”

Descarga de águas pluviais

Este é um ponto onde as águas pluviais vindas das ruas, quintais e pátios chegam à ribeira. Já pensaste que substâncias podem trazer para a ribeira e como elas podem afetar a qualidade da sua água? Será que existem mais descargas como esta ao longo do seu percurso?

Erosão das margens

Quando a chuva é mais intensa e a água corre com mais força, as margens desprotegidas e o solo envolvente podem ser arrastados para o leito da ribeira, enchendo-a de terra, pedras e blocos. Qual será a melhor forma de segurar as margens e evitar a erosão? Será que as raízes das plantas podem ajudar? E nós, humanos? Está atento, a ribeira dar-te-á a resposta.

Carvalhal à beira da ribeira

Aqui começa um troço dominado pelas frondosas sombras do Carvalho-cerquinho (Quercus faginea). Observa como variam as folhas de árvore para árvore. Onde estão os seus frutos? Não confundas bolotas com bugalhos. A bolota é o fruto dos carvalhos e o bugalho é uma estrutura esférica que a árvore forma como resposta à picada de insetos, neste caso a Vespa-das-galhas (Cynips tozae). Esta utiliza-os para depositar os seus ovos em segurança e como fonte de alimento para completar o ciclo de vida até à fase adulta. Nesta altura, sairá do bugalho o que pode ser comprovado pelo orifício que deixa no mesmo. Descobre ainda, no início deste troço, os arbustos que formam moitas: a Madressilva (Lonicera sp), a Romãzeira (Punica granatum), o Folhado (Viburnum tinus) e o Pilriteiro (Crataegus monogyna), entre outros. Na primavera está atento aos pequenos insetos polinizadores que visitam as suas flores, como por exemplo, o Abelhão (Bombus terrestris), pequenas abelhas silvestres, besouros e borboletas. DESAFIO: Sugerimos-te a aplicação PlantNet, para identificar algumas espécies de plantas apenas com uma imagem. É uma ferramenta grátis, disponível em Android e iPhone (iOS).

Desporto ao ar livre

Um conjunto de equipamentos desportivos instalados neste espaço verde, convida à prática de atividade física e podem complementar a tua caminhada.

Biodiversidade

A presença, no leito da ribeira, de plantas típicas dos prados alentejanos, como por exemplo os Catacuzes (Rumex crispus) e o Chupa-mel (Echium plantagineum), evidencia o seu assoreamento devido ao arraste de solo para o seu interior. Qual a principal razão para esta situação? Já pensaste na importância da galeria ripícola, árvores e arbustos característicos dos nossos sistemas ribeirinhos, para a consolidação das margens da ribeira? Já reparaste como aqui se encontra pouco desenvolvida e fragmentada? Plantas como as tamargueiras e os choupos, avistados ao longo da ribeira, são algumas das plantas geralmente presentes nestas galerias. No entanto, uma maior densidade e diversidade de espécies seria o ideal para a resolução deste problema. Já observaste uma pequena borboleta que voa de forma irrequieta, com asas de tons castanhos e alaranjados? É a Borboleta-malhadinha (Pararge aegeria), uma espécie muito territorial, que prefere locais sombrios e húmidos, como a nossa ribeira. E o que ouves? Distingues diferentes cantos? As aves nem sempre são fáceis de observar, mas através dos seus sons poderás distingui-las e identificá-las. DESAFIO: Ouve os audios/vídeos correspondentes aos sons de 5 espécies de aves. Melro (Turdus merula) https://www.youtube.com/watch?v=fP6qwPOPozw Toutinegra-dos valados (Curruca melanocephala) https://www.youtube.com/watch?v=FcRlz_W3Z4w Carriça (Troglodytes troglodytes) https://www.youtube.com/watch?v=nQHLBzLzu98 Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica) https://www.youtube.com/watch?v=QofPm4gK0i4 Rouxinol-comum (Luscinia megarrhynchos) https://www.youtube.com/watch?v=BnjAtIWvzDQ Escuta com atenção e vê se descobres estas espécies. Mantem-te em escuta ao longo do percurso!

Confluência de linhas de água

Junto ao Freixo (Fraxinus angustifolia), árvore característica das zonas ribeirinhas, juntam-se duas linhas de água àquela que acompanhaste, aumentando o caudal da ribeira. Influenciarão a qualidade da água de forma positiva ou negativa? Para dar resposta a esta questão a ciência e a tecnologia podem ser nossos aliados. Ao longo da ribeira são vários os pontos de recolha de amostras de água, devidamente sinalizados. A Agência Portuguesa de Ambiente, parceira do Projeto Ribeira da Torregela Viva e Vivida, recolhe e analisa estas amostras em relação a vários parâmetros, que permitem concluir sobre a qualidade da água. Com um pouco mais de atenção podes descobrir uma pequena nascente. Em tempos, quando o abastecimento público falhava, a população recorria a este ponto de água. Segue o canal até ao lago.

Lago da Malagueira - eutrofização

Aqui a ribeira dá lugar a um sistema lêntico, de águas paradas. Observa a sua cor e a sua transparência. Há alturas do ano em que a água se torna verde, devido, sobretudo, ao desenvolvimento de algas microscópicas. Este fenómeno ocorre frequentemente após eventos climáticos específicos, relacionados com enxurradas seguidas do aumento abrupto da temperatura e da luminosidade. Estas algas são indicadoras da presença de excesso de nutrientes ricos em fósforo e azoto. Qual a sua origem? A ribeira está sujeita a descargas de efluentes com elevada carga destes nutrientes que ficam retidos no lago e se vão acumulando nos sedimentos do mesmo. Estas substâncias favorecem o desenvolvimento excessivo de microalgas e de plantas aquáticas que, pela sua atividade fotossintética e respiratória, provocam grandes variações na disponibilidade de oxigénio dissolvido na água. Este fenómeno designa-se de eutrofização e é persistente no lago da Malagueira. De que forma poderá influenciar a sobrevivência dos seres vivos deste lago? A mortandade piscícola observada com frequência neste lago resulta exatamente deste cenário. SABE MAIS… Ouve o testemunho de uma especialista em ecossistemas aquáticos, da Universidade de Évora.

A biodiversidade do lago

Desfruta a sombra dos freixos. Observa as tabuas (Typha sp.) que crescem nas águas menos profundas do lago. Sabendo que são utilizadas em estações de tratamento biológico de águas residuais, o que te parece da sua introdução neste local? A sua ação depuradora, eficaz a reduzir a poluição da água, deve ter sido um dos critérios para a sua seleção. Para além disso, são um habitat por excelência para aves aquáticas como a Galinha-de-água (Gallinula chloropus), que o utiliza como abrigo e local de nidificação. Está atento, é muito provável que a vejas. Ocasionalmente, ocorrem também aqui outras espécies, como a Garça-branca-pequena (Egretta garzetta), sinal de que há alimento para ela. No seu cardápio habitual incluem-se peixes, rãs, pequenos répteis e insetos aquáticos. E a propósito de peixes, já viste algum neste lago? Pelo menos há registo de 3 espécies: a Carpa-comum (Cyprinus carpio), o Chanchito (Australoheros facetus) e a Gambúsia (Gambusia affinis). Sabias que a Gambúsia é uma espécie aquática invasora, que veio para combater a malária e ficou em Portugal? Sabias que pelos seus hábitos alimentares também contribui para que o lago se torne verde? SABE MAIS… https://www.wilder.pt/historias/gambusia-este-peixe-invasor-veio-para-combater-a-malaria-e-ficou-em-portugal/ DESAFIO: Sob orientação do teu professor, recolhe amostras de água para analisar alguns parâmetros físico-químicos e observar possíveis microalgas, nos laboratórios da escola.

Ecossistema ribeirinho no Troço Vila Lusitano - Torregela

A água corre aqui entre pedras e raízes. Quando cai em pequenas cascatas incorpora ar e, assim, enriquece em oxigénio, outro dos elementos essenciais à vida aquática. Neste troço, entre os 2 bairros, o ecossistema ribeirinho esconde uma diversidade de seres vivos interdependentes e que nos pode passar despercebida. Disponível para os conhecer? Dentro de água, destacamos invertebrados como pequenos moluscos, lapas e búzios, e larvas de insetos que aqui se desenvolvem e que servem de alimento, por exemplo à Cobra-de-água (Natrix maura) e à Rã-verde (Pelophylax perezi). Esta última também se alimenta de insetos na fase adulta, assim como todo um conjunto de aves insetívoras e a colónia de Morcego-pigmeu (Pipistrellus pygmaeus ), instalada nas árvores deste troço. Poderás observá-los principalmente nos meses mais quentes, ao entardecer. Na mesma altura do ano, e olhando um pouco mais alto para o céu, descobres bandos de Andorinhão-preto (Apus apus) que se ouvem, com os seus ‘gritos’ estridentes, e que são parte das nossas paisagens sonoras urbanas. Estas aves têm um modo de vida peculiar e surpreendente. Caso queiras saber como é que fazem quase tudo a voar, incluindo dormir: SABE MAIS… https://gulbenkian.pt/jardim/visitar/um-naturalista-no-jardim-gulbenkian-como-e-porque/como-e-que-os-andorinhoes-conseguem-dormir-a-voar/ DESAFIO: Dos seres vivos presentes neste troço da ribeira, elegemos 5 para este desafio – o Sabugueiro, a Malhadinha, a Rã-verde, a Cobra-de-água e o Morcego-pigmeu. Usufrui, explora e vê quantos consegues descobrir.

Hora de acordar os sentidos ...

Nos dias quentes aproveita a sombra fresca das copas das árvores. DESAFIO: Explora, Observa, Escuta e Sente. Aqui, se conseguires senta-te, fecha os olhos e entrega-te ao tempo. Há cores, brilhos e contrastes, texturas, sons, aromas, vento forte ou brisa, diferentes temperaturas … e o teu interior. O que viste, o que escutaste, o que sentiste e como te sentiste? Algumas partilhas do 8º A da ESAG no seu primeiro encontro com a ribeira, março de 2022: – “Esta ribeira é cativante pelo brilho da água.” – “Senti o cheiro de várias plantas.” – “O som é agradável, ouço as árvores como se estivessem a falar umas com as outras, ouço a água …” – “Oiço os passarinhos, a água da ribeira a correr e o som das folhas com o vento.” – “Ouço passarinhos cheios de amor a comunicar uns com os outros.” – “Está cheio de vida, é muito tranquilo e calmo, escuto a natureza e relaxo.” – “Sinto felicidade vinda da natureza até mim.” – “Um sítio bom para relaxar, silencioso, calmo e confortante.” – “O som da natureza é como uma melodia para todos os nossos sentidos. Sente-se a paz.” – “Acho este sítio bastante importante para tirar a nossa dor, angústia e tudo de mal que possa estar dentro de nós.” – “Fiquei encantada por esta ribeira me trazer tanta vontade de aproveitar e de bem tratar a nossa maravilhosa natureza …” E ainda houve quem conseguisse superar os aspetos negativos, sugerindo que utilizando a mente e a imaginação é possível ver apenas um lugar lindo e com ótimas energias.

Para e observa um pouco mais.

Utiliza o teu olfato. Que sentes? O aroma da ribeira é muitas vezes agradável, indício da presença de plantas aromáticas como o Hortelã-brava ou Mentastro (Mentha suaveolens). Mas, infelizmente, nem sempre é assim. Por vezes ocorrem descargas que dão à ribeira um odor desagradável, que nos leva a afastar do seu curso. Como será possível melhorar esta situação? A Borboleta-malhadinha (Pararge aegeria) mantem-se sempre presente. Na ponte podes ainda encontrar a Lagatixa-verde (Podarcis virescens) a apanhar sol. Entretanto, ouviste algum rouxinol? Na Primavera, podes ouvir pelo menos 2 espécies, o Rouxinol-comum (Luscinia megarrhynchos) e o Rouxinol-bravo (Cettia cetti). Os audios/vídeos seguintes podem ajudar-te a identificá-los: Rouxinol-comum – https://www.youtube.com/watch?v=BnjAtIWvzDQ Rouxinol-bravo – https://www.youtube.com/watch?v=5Ux4uU5haFA SABE MAIS… Se tiveres oportunidade, visita o Museu de Ciências Naturais da Escola Secundária André de Gouveia, onde poderás encontrar alguns dos espécimes característicos da fauna deste ecossistema e que fazem do espólio deste museu. Visitas mediante marcação – museuesag@ag4evora.edu.pt.

Renaturalização da ribeira

Nas zonas urbanas, as linhas de água encontram-se muitas vezes com o seu percurso alterado e com a vegetação ribeirinha destruída. No entanto, esta linha de água reflete uma realidade diferente. Aqui, procurou-se recriar o ecossistema característico deste ambiente através de um processo de renaturalização. Repara nas estruturas de madeira que podes observar nas margens da ribeira. Estas, juntamente com a plantação das espécies ribeirinhas, promovem a contenção das margens para controlo da erosão e a recuperação da biodiversidade.